sexta-feira, 18 de maio de 2007

...Maria

Por Cláudia Regina

Maria, doce maria, sentada na sala vendo tv.
Maria, doce Maria, vendo seu desenho favorido, desenho colorido no mais alto e divertido som.
Doce Maria, filha mais nova de cinco irmãs.
Maria de cabelos cacheados, pele morena, olhos amendoados, boca de criança, olhos de criança, corpo de criança, alma de criança.

Maria vê de relance alguém entrar na sala, Maria não liga, porque é alguém que ela conhece.
Mas ele a chama. - Vem cá Maria!
E a doce Maria - Já vou papai
Senta Maria, deixa eu ver minha filhinha.

Maria esta de costa para a televisão, não vê mais seu desenho.
-Que foi papai!?
- Nada Maria, fica quietinha!

Maria sabia que não podia fazer barulho, mas doía muito em algum lugar que ela não conhecia.
Esquentava, esquentava, e muita dor... Papai, para papai...tá doendo papai!
- Fica quietinha Maria...
E ela se calou, obediente e calada ficou.

Menina, doce menina, isolada no canto da sala,
Menina doce menina não olhava mais para a televisão, mas o barulho continuava lá, e as dores não cessavam.
Menina, a mais nova de cinco irmãs que passavam pela mesma dor, e pelo mesmo sofrimento.

Menina dos cabelos cacheados, pele morena, olhos amedrontados, boca tremula, corpo machucado, alma dilacerada...

Menina que quando vê alguém de relance começa a chorar!
Menina que vive no medo, e em algum lugar. De todos se esconde e não fala com ninguém.

Menina Maria, que perdeu a infância por abuso de alguém que ela conhece.
Não é mais a mesma Maria doce em frente a TV, com sua infância na alma.
Não é mais a mesma Maria, doce Maria!